Tudo que você precisa saber sobre o gênero de jogos Roguelite

10 de janeiro de 2025 • 18 min de leitura

Imagem: Bobbypills/Motion-Twin

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Em um jogo roguelite, o ciclo é simples, mas viciante: explore, enfrente desafios, morra, renasça e tente novamente, mais forte. Este gênero de jogo se destaca pela sua dificuldade e pela necessidade de persistência, onde o jogador deve aprender com os erros e evoluir ao longo das tentativas.

Os jogos roguelite geralmente apresentam fases curtas, mas repletas de obstáculos e chefões difíceis. A principal característica dessa mecânica é que, ao ser derrotado, o jogador não perde tudo. Ele mantém alguns recursos adquiridos durante a jornada, o que permite melhorar suas habilidades e equipamentos para enfrentar novamente os desafios. Isso cria uma sensação de progressão constante, tornando o ciclo mais acessível a cada tentativa.

Embora o gênero tenha se consolidado no cenário indie, com títulos como Spelunky, Hades, Children of Morta, Enter the Gungeon e The Binding of Isaac, os jogos roguelite agora conquistaram maior atenção, com grandes franquias incorporando suas mecânicas. Um exemplo notável é Returnal, exclusivo do PlayStation 5, que ilustra como o gênero evoluiu e tem sido cada vez mais abraçado pelos grandes estúdios.

Entenda as diferenças entre Roguelike e Roguelite

Embora os termos roguelike e roguelite compartilhem origens comuns, com ambos sendo derivados do clássico Rogue de 1980, eles representam experiências de jogo bem distintas. Em Rogue, os jogadores se aventuram pelas Masmorras do Destino em busca do Amuleto de Yendor, enfrentando desafios enquanto exploram cenários gerados aleatoriamente. Isso garante uma experiência única a cada partida, já que a geração procedural muda completamente o ambiente a cada vez.

Um dos principais elementos desse jogo e dos roguelikes é o conceito de permadeath – ou morte permanente. Ou seja, ao morrer, o jogador precisa recomeçar do início, sem manter nenhum progresso feito. Esse fator traz uma grande dificuldade e uma necessidade de adaptação, característica dos roguelikes, onde cada tentativa é uma nova jornada, do começo ao fim.

Já os jogos roguelite são uma versão mais acessível desse conceito. Embora também adotem a geração procedural de fases, eles oferecem uma abordagem menos punitiva. Quando o personagem morre, o jogador retorna a um ponto inicial, mas com parte do progresso mantido, como moedas, itens ou até mesmo melhorias em habilidades. Isso torna o avanço mais suave e oferece uma sensação de evolução constante, o que torna a experiência mais gratificante e menos frustrante.

A origem dos jogos Roguelite

Embora o clássico Rogue de 1980 seja amplamente considerado a inspiração para os jogos roguelite, ele não foi o primeiro título a adotar algumas de suas características. O pioneiro desse estilo foi Beneath the Apple Manor, lançado em 1978 para o Apple II. A ideia de criar experiências de jogo com fases geradas aleatoriamente e morte permanente começou a ganhar força, especialmente no ecossistema de PCs, que seria o berço de muitos jogos desse gênero.

Foi apenas em 1993 que os roguelikes começaram a chegar aos consoles. A intenção era adaptar o conceito para os videogames, simplificando a experiência e dando origem a uma nova vertente: os jogos Mystery Dungeon. Embora incorporassem alguns elementos de roguelike, como a geração procedural, os Mystery Dungeon se destacaram por explorar fortemente a mecânica de RPG. Títulos como Final Fantasy e Pokémon foram grandes exemplos de como esse estilo foi integrado, com a franquia Pokémon criando uma longa tradição de jogos inspirados nesse conceito, além de outros sucessos, como Etrian Odyssey e Digimon World.

Foi só a partir dos anos 2000 que os roguelites começaram a se firmar no mercado ocidental. Jogos como Weird Worlds: Return to Infinite Space ajudaram a expandir as fronteiras do gênero, mas foi Spelunky, lançado em 2008 por Derek Yu, que realmente colocou os roguelites no centro das atenções. Distante do foco em RPGs, Spelunky se aproximou dos jogos de plataforma, abrindo caminho para uma nova onda de inovação no gênero.

De acordo com os desenvolvedores de The Binding of Isaac, Edmund McMillen, e os criadores de Rogue Legacy, o grande feito de Derek Yu foi mostrar que as mecânicas de roguelike e roguelite poderiam ser aplicadas a diferentes estilos de jogos. Essa visão transformadora fez com que o gênero se espalhasse, alcançando um sucesso duradouro que ainda se reflete em vários lançamentos populares até hoje.

O que define um Jogo Roguelite

Para ser considerado um roguelite, um jogo precisa incorporar algumas características essenciais, independentemente de seu estilo – seja RPG, ação, deck builder ou outros tipos de jogabilidade.

A primeira característica fundamental é a geração aleatória de fases. Em um jogo roguelite, o ambiente, os inimigos, os itens e power-ups são criados de forma procedural, sem qualquer programação prévia, exceto pelo "ponto seguro", ou o local onde o jogador começa sua jornada. Isso garante que cada partida seja única, oferecendo desafios sempre novos.

Outra marca registrada dos roguelites é a morte do personagem. Em jogos como Hades ou Spelunky, é quase impossível completar o jogo na primeira tentativa. Essa morte não está relacionada à habilidade do jogador, mas sim à curva de dificuldade do jogo. Ela faz parte da mecânica, permitindo que o jogador renasça mais forte a cada tentativa e se aproxime mais do objetivo final.

A exploração e a descoberta são também aspectos centrais desse tipo de jogo. A sobrevivência é importante, mas como o jogador progride na jornada é igualmente essencial. Durante a exploração, o jogador coleta recursos e power-ups, que podem ser usados para melhorar suas chances nas próximas tentativas.

Apesar da alta dificuldade e dos ciclos repetitivos, as recompensas trazem um progresso significativo, tornando cada vitória mais gratificante. Derrotar um chefe com mais facilidade, passar por uma fase sem sofrer danos ou adquirir habilidades que impactam diretamente no desempenho são elementos que tornam a experiência roguelite ainda mais envolvente e recompensadora.

Além de aprimorar as habilidades do personagem, muitos jogos roguelite também oferecem opções de personalização visual. Seja por meio de skins, mudanças de cor ou novos acessórios, os jogadores podem ajustar o visual de seus heróis ou heroínas, criando um estilo único que reflete sua própria identidade no jogo.

Principais exemplos de Jogos Roguelite

Diversos jogos roguelite lançados nos últimos anos se destacaram e se tornaram marcos importantes na indústria de games. Esses títulos não só conquistaram os jogadores, mas também ajudaram a definir e popularizar o gênero. Confira alguns dos principais exemplos.

3. Spelunky

Em Spelunky, você assume o papel de um corajoso explorador que se aventura por templos e cavernas, enfrentando uma série de desafios ao longo do caminho. Embora o jogo tenha um visual cativante e um estilo de jogo leve, a experiência é implacável. Qualquer erro pode fazer você recomeçar desde o início, o que torna cada tentativa ainda mais intensa.

O grande atrativo de Spelunky está na geração procedural dos cenários, inimigos e itens. Cada nova partida é única, e você deve confiar no seu aprendizado e nas melhorias adquiridas ao longo da jornada para superar os obstáculos e avançar mais fundo no jogo. A imprevisibilidade e o desafio constante são o que tornam Spelunky um clássico do gênero roguelite.

2. The Binding of Isaac

Em The Binding of Isaac, você acompanha a história de uma criança que luta pela sobrevivência em um mundo bizarro e aterrorizante, repleto de perigos. Ao contrário de Spelunky, que se foca em exploração de plataformas, The Binding of Isaac é um shooter de ação em que a habilidade e os reflexos rápidos são cruciais para o sucesso.

Este jogo exige mais do que apenas precisão nos tiros; você também precisa estar atento a uma enxurrada de inimigos e obstáculos que surgem constantemente. A tela se enche de elementos e ataques inimigos, e sua tarefa é não apenas derrotá-los, mas também se esquivar de ataques que podem vir dos lugares mais inesperados. O ritmo frenético e a constante pressão fazem de The Binding of Isaac um dos jogos mais desafiadores e recompensadores dentro do gênero roguelite.

1. Dead Cells

Dead Cells é uma combinação envolvente de roguelite e metroidvania. No jogo, você explora uma vasta ilha cheia de desafios, onde monstros e armadilhas tentam te enviar de volta ao seu cárcere subterrâneo. O interessante é que, apesar da morte constante, a cada nova tentativa você tem a oportunidade de progredir ao coletar power-ups e aprimorar suas habilidades.

Com uma jogabilidade fluida e dinâmica, Dead Cells mantém o jogador engajado, mesmo com a repetição dos ciclos. A cada morte e reinício, você se sente mais forte e preparado para enfrentar novos desafios. Além disso, o jogo se destaca pela dedicação do estúdio em oferecer atualizações constantes e incríveis crossovers, como o de Castlevania, que trouxe elementos clássicos da franquia para enriquecer ainda mais a experiência.

Outros jogos roguelite que merecem destaque

Além dos grandes nomes já mencionados, diversos outros jogos roguelite marcaram presença no cenário gamer, oferecendo experiências únicas e desafiadoras. Esses títulos continuam a expandir as fronteiras do gênero, trazendo novas mecânicas e abordagens criativas que conquistaram uma base de fãs fiel.

5. Slay the Spire

Lançado sem grandes expectativas, Slay the Spire rapidamente conquistou uma enorme base de jogadores, tornando-se um sucesso dentro do subgênero de deck builder roguelite. O jogo permite ao jogador escolher entre diferentes rotas, podendo optar por caminhos mais seguros, com recompensas menores, ou trilhas arriscadas, que oferecem cartas mais poderosas para fortalecer seu deck.

Com mecânicas inspiradas em jogos de cartas colecionáveis (TCGs), Slay the Spire também se expandiu para o mundo dos jogos de tabuleiro, solidificando ainda mais seu impacto na indústria.

4. Returnal

Lançado em 2021 para o PlayStation 5 e mais tarde para PCs, Returnal é um marco na evolução dos jogos roguelite, trazendo uma experiência única de ação e exploração em um cenário alienígena. Desenvolvido pela Housemarque, o jogo segue a astronauta Selene, que após um acidente em um planeta desconhecido, precisa enfrentar um ciclo interminável de morte e renascimento. Cada vez que Selene morre, ela retorna ao ponto inicial de sua jornada, forçando os jogadores a se adaptarem e avançarem em um mundo cada vez mais perigoso.

Este título não é apenas mais um roguelite; ele redefine o gênero, combinando gráficos de tirar o fôlego e uma jogabilidade intensa, típica de jogos AAA. O ciclo de morte e renascimento é um dos maiores atrativos de Returnal, proporcionando uma experiência desafiadora e recompensadora. Com sua alta qualidade visual e mecânicas inovadoras, Returnal mostra como os estúdios maiores podem criar experiências imersivas, mantendo a essência dos jogos roguelite de forma envolvente e acessível.

3. Don’t Starve

Don’t Starve é um título que combina magia, mistério e sobrevivência em uma experiência roguelite única. No papel do cientista Wilson, sua missão é enfrentar os horrores de um mundo selvagem e imprevisível, onde monstros, armadilhas e o constante medo de morrer são os maiores desafios. Lançado pela Klei Entertainment, este jogo destaca-se por sua jogabilidade profunda, com uma combinação de mecânicas de sobrevivência e exploração.

A principal tarefa de Wilson é coletar recursos, criar itens e montar seu abrigo para sobreviver mais um dia. Cada ciclo de jogo é repleto de decisões estratégicas, pois você precisará balancear suas necessidades básicas – como comida, abrigo e ferramentas – com os perigos que espreitam a cada canto. A mecânica de Don’t Starve é enriquecida por seu estilo visual, que mistura 2D com ambientes 3D, criando uma atmosfera única que cativa desde o primeiro minuto.

2. Balatro

Balatro é uma fusão única entre o gênero roguelite e o clássico jogo de pôquer, criando uma experiência viciante e repleta de estratégias. Lançado para dispositivos móveis, o título conquistou rapidamente os jogadores e foi indicado ao cobiçado prêmio de "Jogo do Ano" na The Game Awards 2024, ao lado de gigantes como Final Fantasy VII Rebirth e Black Myth: Wukong.

Com mais de 150 tipos de cartas curinga, cada uma com habilidades distintas, Balatro desafia os jogadores a formular estratégias dinâmicas e inovadoras. Além disso, o jogo oferece 8 níveis de dificuldade, garantindo um desafio crescente, e modos como desafios diários e um cenário competitivo que mantêm a jogabilidade interessante e recompensadora.

1. Hades

Hades, desenvolvido pela Supergiant Games, foi uma verdadeira surpresa que se transformou em um fenômeno, especialmente durante seu Acesso Antecipado. Neste jogo roguelite, você assume o controle de Zagreus, filho de Hades, que tenta escapar do império de seu pai para descobrir mais sobre sua mãe. Porém, ele enfrentará uma série de desafios, pois seu pai fará de tudo para impedi-lo de sair do submundo.

Além de conquistar uma legião de fãs, Hades recebeu indicações a "Jogo do Ano" e foi aclamado por sua jogabilidade envolvente, narrativa cativante e combates intensos. O estilo visual único e a trilha sonora marcante também contribuem para o sucesso do jogo, tornando-o um dos maiores títulos do gênero roguelite.

A Popularidade dos Jogos Roguelite

O gênero roguelite tem se consolidado como um dos mais inovadores e cativantes no mundo dos videogames. Sua popularidade pode ser atribuída à sua capacidade de se integrar a outros estilos de jogo, criando experiências únicas a cada partida. A característica de “replayability” (replayabilidade) — ou a vontade de jogar mais uma vez, sempre em busca de algo novo — é um dos fatores que atrai jogadores de diferentes preferências.

O gênero se tornou tão influente que até mesmo jogos licenciados começaram a se aventurar no universo dos roguelites, como é o caso de Teenage Mutant Ninja Turtles: Splintered Fate. Isso abre portas para uma nova fase do gênero, permitindo que franquias populares explorem novas formas de engajar o público.

Embora toda febre tenha seu ciclo, o modelo roguelite tem uma adaptabilidade impressionante, permitindo que os jogos do gênero continuem a se renovar e manter o interesse dos fãs por mais tempo. Nos últimos 15 anos, vimos uma série de grandes sucessos que ajudaram a estabelecer o gênero como uma força crescente na indústria. Não é mais uma questão de "se" o gênero continuará a se expandir, mas "quando" novas inovações dentro dele serão introduzidas.

O impacto dos roguelites também foi reconhecido pelos gigantes da indústria de jogos, que começaram a incorporar elementos do gênero em suas próprias franquias. Um exemplo notável é a expansão Valhalla de God of War Ragnarök, que adotou mecânicas típicas do estilo roguelite. Isso apenas confirma a popularidade e a longevidade do gênero.